quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Falta da falta

Sinto falta, em demasia, dos tempos em que, mesmo distante, nos falávamos todos os dias e ansiávamos sempre por isto. Sinto falta dos tempos em que éramos inocentes e nós amávamos sem saber que isso era amor de verdade. Sinto falta dos tempos em que tempo não nos preocupava e tínhamos de sobra pra compartilhar. 
Sinto falta da primeira vez que nos vimos, do primeiro abraço, do primeiro sorriso, tímido, porém inesqucível. Sinto falta das incansáveis palavras, intermináveis, e até repetidas, que dedicava à mim. Sinto falta das primeiras descobertas, das primeiras coincidências, das primeiras perturbações. 
Sinto falta da minha primeira dúvida, da minha primeira incerteza, da minha primeira dor. Sinto falta da primeira repulsa, da primeira aversão, do primeiro asco. Sinto falta daquelas lágrimas que me cortavam a face sempre que me vinham aos olhos. 
Sinto falta do sofrimento que me flagelou, mas já cicatrizou, e foram meus melhores aprendizados. Sinto falta de algumas feridas que já cicatrizaram, mas jamais partiram. Sinto falta de algum sangue que corria por aqui e agora, não mais, não mais porque se renovou. 
Sinto falta de sentir falta do que jamais tive. Sinto falta da falta que jamais se fez presente. Sinto falta da ausência que me faz e da presença que ausenta. 
Sinto falta de faltar. 

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