quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Entre cair e levantar

Cair entre nuvens é fácil  quando se está em últimos instantes, mas cair em espinhos seria tão difícil quanto sair caminhando depois da queda. E na verdade, cair é apenas cair, a diferença está em como se levantar. Não se enalteça por enfrentar seus problemas, se enalteça por ter aprendido algo com eles. Problemas todos têm, a diferença está em aprender a solucioná-los.


Eu adoraria te ver desaparecendo dentro da minha cabeça. Se não quiser sair, nem vou me incomodar. Mas se você preferir que o chão te engula, tropece pra ficar mais fácil. E se pensar que ficar no chão é cansativo, fique em pé. Se não quer que te pisoteiem, ao menos levante-se. E antes que te pisoteiem lembre-se de quando pisoteou também; talvez a mesma moeda seja bem justa. E se no fundo você desistir e achar que ficar em pé cansa bem mais, se deite e pague pelas vezes que fez da carne seu assoalho. Acredito que ficar em pé é pouco perto de ser um tapete de pele.
E o seu banquete de corações, como anda? Você anda devorando muitos corações como se fossem doces? E você devora corações como se fossem aperitivos, nem se importa a quem pertencem. Eu sei que não se importa com nada, apenas com o fato de se manter na vitalidade.
E você vai sempre continuar caindo e caindo e sempre precisando aprender a se levantar. Entre corações e corações, lá está o seu coração falido. E cair é pouco perto de ter um coração dilacerado. Cair entre nuvens é fácil, o difícil é consertar corações quebrados. Uma queda à qualquer altura seria desastroso pra quem nem tem segurança em si até mesmo com os pés no chão.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sem nexo

Desconexo, sem nexo, assim, perplexo
Sem sexo, nem reflexo
Talvez convexo
Com o plexo em anexo
Conexo, mas dislexo.

Entre tratados

E você engole suas dúvidas como se fossem doces porque teme as respostas, talvez amargas. Você é apenas você ou algumas tolices? É impressão minha ou você não quer responder? E você cospe futilidades como se fossem elogios porque teme ser gentil, talvez irreconhecível. Você é apenas você ou alguns espaços vazios? É impressão minha ou você é imperecível? E você teme a si mesmo como se fosse um ditador porque sua maior lei é não ser você mesmo. Você é apenas você ou mais lobo assustador? É impressão minha ou você se sente supremo? 
Talvez você nunca ame alguém realmente, ou nunca seja amado sinceramente. Talvez você nunca chegue na hora certa, ou nunca tenha um relógio perfeito. Chegar atrasado é sua grande especialidade e você acredita que ainda tem direito. 
Eu quero que você aprenda sozinho, não perca o prazo de validade. Nós somos apenas acordos, na verdade. 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Inevitavelmente, impossível não se apaixonar por você. O que você tem que tanto fascina? Inevitavelmente, impossível não se encantar por você, e quem disser o contrário jamais soube o que é o encantamento. Impossível dizer que não se deixa levar por você, falsidade. Verdade, voluntária e exata, me deixaria levar por você pra onde você quisesse me levar. Indiscutivelmente, você tem a mim nas mãos e isso me torna uma tola por você. Onde está meu lado de arrogância, orgulho e domínio? Arrogantemente, com todo o orgulho, você o dominou. 

domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre um grande homem

De repente, percebi que nunca disse ao meu pai o quanto eu o amo. Sei que vou sentir falta disso futuramente, e até me arrender. Talvez essa seja a única coisa de que realmente vou me arrepender, já que nunca me arrependo. Não que eu não ame meu pai, é que me faltam palavras pra dizer o quanto. E nós nunca falamos sobre isso, nunca dizemos o quanto nos amamos, eu não digo a ele, e muito menos ele a mim. Isto não quer dizer que não nos amamos, mas me faz lembrar o quanto dizer e ouvir seria ótimo. A culpa não é dele, nem minha, não há culpa nisso, há falta de palavras. 
As coisas realmente não são como na TV. As famílias não são como na TV. Os pais não contam histórias para os filhos dormirem e os filhos não deixam recados na geladeira como na TV. Talvez seja por isso não sejamos felizes; porque idealizamos a felicidade que a TV nos vende. E vemos famílias felizes, com filhos saudáveis, pais muito bem casados, uma grande casa, um cachorro e finais de semana com a família toda em algum lugar bonito ou até mesmo reuniões de família ao redor da mesa. Queremos acreditar nisso, mas é inválido, porque está somente na TV. 
Não tenho o que reclamar, não mesmo. Tenho uma ótima família, pais bem casados, só não tenho o cachorro e os finais de semana em algum lugar bonito. Mas quem se importa realmente? Eu não sei o que dizer ao certo, mas nada é perfeito, sem exceções. São pessoas e pessoas, pessoas com pessoas, pessoas entre pessoas, não há perfeição em pessoas. E somos pessoas, sabemos das nossas imperfeições, então por que nos cobramos perfeições de algo que não pode ser extraído? 
Apesar de não ter aquela vida que se venda na TV, tive uma ótima criação. Minha mãe teve a função de cuidar de mim, zelar por mim, asseguar minha educação, meu desenvolvimento, meu crescimento, minha dignidade e tudo o mais. Minha mãe me deu os princípios básicos de sobrevivência, ética e civilização, uma grande papel muito bem realizado. Não tenho o que reclamar nessa parte, pois ela exerceu muito bem seu papel de mãe. Como já disse, nada é perfeito. Sim, minha mãe também se enquadra nisso. Foram tantos segredos confiados, que erroneamente ela deixou escapar. Tantas confissões feitas, que inexplicavelmente ela julgou sem saber. Tantos atos cometidos, tantos erros, tantos acertos, tantas quedas, que ela soubre criticar sem justificativa. Mas não a julgo, não mesmo. Ela foi criada de uma forma a ver tudo como tem que ser, tudo corretamente, tudo socialmente. Eu nasci com a tendência de quebrar regras e questionar o inquestionável. Somos realidades e personalidades opostas, e querendo ou não, conflitos existem. Conflitos existem a princípio de mostrar o quanto diversos são os conceitos. E por falar em conceitos, aprendi vários com minha mãe, do tipo "Não faça como eu, estude, estude, estude e trabalhe, se realize, depois você terá tempo para outras coisas". Quando ela diz outras coisas ela se refere à relacionamentos, amigos, diversão e tudo o mais. Sempre discordo quando ela diz que sempre tem a razão, pois não tem. E acho incerto ela não deixar eu aprender por mim mesma o que ela também já aprendeu. Não, mãe, eu não quero que me diga o que vai acontecer, eu quero ver por mim o que virá. Você ensinou o que eu tinha que aprender, então agora sinta-se segura de seus ensinamentos. 
Quanto ao meu pai, bem, meu pai é uma personalidade. Meu pai foi a parte que influenciou totalmente na minha personalidade. Tudo o que sou culturalmente e intelectualmente eu devo ao meu pai. Minha mãe nunca teve muita paciência pra isso, e também nunca teve muito o que dizer sobre isso. Não que minha mãe não seja uma pessoa de cultura, o caso é que não é uma cultura tão vasta quanto a do meu pai. Meu pai não trabalhou muito em mim o lado sentimentalista ou algo do tipo, mas eu sei que ele expressava todo o sentimento que tem por mim através do que me ensinava. E ele me ensinou muita, mas muita coisa mesmo à partir do que conhecia. 
Desde criança meu pai me fazia ouvir os vinis que ele tinha. Tinha, porque na verdade hoje os vinis dele são todos meus. Não que eu tenha tomado posse, mas foi algo que ele confiou gentilmente à mim. O calor dos vinis que meu pai ouvia quando era jovem foi passado dele para mim. E com aqueles vinis eu aprendi sons, músicas, letras e sobre homens. Sim, sobre homens que fizeram as verdadeiras músicas. Meu pai me fazia ouvir U2 com ele como se fosse uma espécie de aventura. E pra mim era uma aventura! Ouvir Bono cantar suas poesias urbanas e os acordes do The Edge, aquilo era o que mais de emocionante tinha para mim. Ele me fazia viajar ouvindo Pink Floyd. Lembro me até hoje das ilustrações do album do The Wall que meu pai me mostrava quando eu era criança e minha mãe dizia pra ele parar de me assustar com aqueles desenhos. Me assustar? Ah, pare, mãe, papai só estava me fazendo imaginar. E posso assegurar, que isso tudo me fazia imaginar, de fato. 
Mas não só de U2 e Pink Floyd foi feita minha infância. Papai me ensinou a ouvir as canções da maior compositora que eu já conheci: Alanis Morissette. Sim, e posso dizer que ela foi a principal influenciadora da minha personalidade forte e crítica que tenho hoje. Papai me motivava a ter uma mente crítica e forte em relação ao mundo e por isso me deixava ouvindo Alanis Morissette. Claro, eram letras em inglês, e obviamente eu não entendia nada, mas quem garante que eu não sentia a essência da música? Era isso que meu pai queria me ensinar: A aprender que música não era só letra, era melodia, era interpretação. 
Existem várias e várias músicas que fizeram minha infância, claro. Hoje, justamente, eu as escuto porque meu pai me ensinou assim. Ele deixava o rádio ligado em boas estações que tocavam boas músicas, bom rock, e assim eu cresci tão apurada pra música.  Com o tempo aprendi mais e mais sobre música, mas sempre boa música. Nunca decepcionei meu pai musicalmente, disso ele tem orgulho, eu sei. Ele sabe que educou muito bem meus ouvidos a ouvir boa música e sabe que jamais encontraria em meu player algo que desclassificasse isso. 
Engana-se quem pensa que meu pai me ensinou somente sobre música. Papai foi um dos grandes motivos por eu amar a arte, todo tipo de arte. Quando eu era criança, nós desenhávamos juntos. Até hoje eu amo os desenhos do papai. Meu pai me ensinou a essência do surrealismo e do imaginário. Ele fazia eu imaginar o impossível e fazer com que esse impossível se realizasse na arte. Papai sempre me achou extremamente criativa e imaginativa, e de fato, isso eu sou até hoje, mas posso admitir que boa parte disso foi pelos exercícios que ele me propunha. 
Além dos desenhos, papai me ensinou a gostar de revistas e HQ's. Sim, até hoje eu tenho esse enorme fascínio pelos dois. Eu recortava revistas quando era criança, hoje eu transformo recortes em uma forma de arte pessoal. Os personagens dos quadrinhos me faziam querer ser uma heroína, e até hoje eu quero. Mas para o meu pai eu sempre vou ser a heroína dele. 
Fotografia! Meu pai me fazia ter um olhar crítico sobre isso desde criança. Ele entregava revistas, discos e até jornais pra eu ficar olhando as fotografias. Nessa época eu criei, sublinarmente, meus conceitos estéticos sobre fotografia. Hoje, meu pai se orgulha infinitamente quando me vê fotografando ou quando vê uma foto que eu tirei. Eu sei que no fundo ele pensa "ela aprendeu o que eu quis ensinar". 
E escrever, hein? Pois é, tudo isso que eu via e fazia, me ensinou a ter criatividade, crítica e conceitos suficientes pra escrever da forma que escrevo hoje. Claro, sempre tem algo pra melhorar, mas ninguém pode melhorar meu ponto de vista. Ponto de vista esse que meu pai também influenciou. 
Quem lê tudo isso pensa que meu pai é uma espécie de intelectual moderno ou algo do tipo, pois acredite, não é. Meu pai é um homem comum quanto tantos outros,  a diferença está no que ele construiu intelectualmente dentro de si. Porque um homem não é o que possui, é o que pensa.  E meu pai não possuía nada, nada mesmo, nem fortuna, nem propriedades, nem contas bancárias, mas meu pai tinha todo um conhecimento e uma cultura tão vastos que eram maiores que qualquer conta suíça. E o que eu aprendi com isso? Aprendi o conhecimento. Podem me tirar tudo, mas se eu tiver conhecimento nada perco. 
E sabe? Pra mim meu pai é o único homem do mundo. Não que eu tenha uma certa "queda" por meu pai, nada disso, eu digo que ele é o único homem por ser digno de ser chamado de homem. Meu pai é o único homem que realmente merece meu respeito, minha dedicação e meu amor, porque ele é o único homem digno de tudo isso. Minha mãe tem sorte de o ter como marido, mas eu tenho mais sorte ainda de tê-lo como pai, porque tenho o seu sangue. 
Acredite, eu sempre serei a garotinha dele. Enquanto outras reclamariam, eu agradeço. Porque meu pai é o único homem que sabe que eu cresço, mas sempre vou continuar sendo uma garotinha. E mesmo que eu cresça, me fortifique, me sobressaia, sempre serei frágil, e ele conhece essa fragilidade. Mas minha fragilidade não é transtornável, é apenas uma coisa boba. Não que eu seja frágil ao extremo, mas sempre há a recaída. Eu me finjo forte e inabalável para todo o mundo, mas só eu sei quando estou frágil por dentro. E meu pai me ensinou a ser forte. E sabe? Pai, você é o cara. O cara que realmente me ensinou a ver entre as coisas. E fique tranquilo, nunca nenhum outro cara vai tomar o seu lugar. 

sábado, 7 de agosto de 2010

Adquirindo paciência com o tempo

Eu adoraria se me respondesse mais rápido, sabe? Não exijo exclusividade, só uma parte do tempo. Não que eu não goste de esperar, o caso é que não se vende mais paciência e estou sem dinheiro. E se não posso comprar paciência, esperar se torna algo como uma crise de abstinência. Mas, talvez isso seja uma prova, e esperar seja o maior desafio. Afinal, o que é esperar? Tempo ou paciência? Se esperar for tempo, creio que não tenho nehuma noção do quanto ele passa. E se esperar for paciência, bem, acredito que posso continuar esperando porque a tenho de sobra. 
Mas o que mais me corrói é continuar esperando e esperando, sendo que está tão perto. Ao mesmo tempo que está perto está inalcalçável, porque o perto é tão longe quanto o longe mais distinto. 
Porque quando acredito que tenho entre as mãos, me escapa entre os dedos. Às vezes não gostaria de ter dedos, só pra não perder nada das mãos. O que eu quero não é posse, nem domínio, quero merecer. Quero ter o que posso por conquista, não por posse comprada. Quero em horas, minutos, segundos, todos os milésimos possíveis que eu puder conquistar. Quero cada centímetro, cada pedaço, cada milímetro, que eu puder conquistar. De cada centímetro quero explorar sem contar os minutos, nem deixar o tempo passar. Mas se a questão é conquista, bem, isso é algo que não tenho medo de realizar. 
Se a questão for desistir, isso seria bem difícil. Começar é fácil, pra mim, o difícil é desistir. Porque quando quero, agarro com os dentes e me coloco ao máximo. Quebro barreiras, conceitos, práticas, e até normas sociais pra conseguir o que pretendo. Se quiser que eu desista me dê um bom motivo, mas um motivo que me convença, porque desistir fácil e por qualquer coisa, definitivamente, não é comigo. Ir até onde der é pouco, o fundamental é ir até o fim. E no fim, quando chegar lá, como proceder? Chorar a glória alcançada, talvez descansar. Mas, que no fim, eu valorize meu mérito e não o despreze como qualquer. Desprezar o mérito me faria tão inútil quanto dizer que foi fácil. O que é fácil desgasta, banaliza, perde o encanto, e perante isso, nada mais me convém. O que me atrai é o difícil, insistente, inconquistável, é aí que vou jogar o meu resto de tempo. 
E ainda estou aqui esperando pelo meu inconquistável, bem conquistado. Acreditei que conseguiria, consegui, agora quero meu amplo mérito. Estou esperando pelo meu mérito, impacientemente. Mas ainda a paciência é algo que briga com minha ansiedade. A paciência que não posso comprar é suprida gratuitamente por  boas doses de ansiedade. Paciência é outra coisa que anda me escapando entre os dedos, enquanto a ansiedade nem tenta escapar. Mas, estou seguindo o ritmo que você dita, a maestria é toda sua. A mim só resta estar no compasso certo pra não estragar a melodia. 
E falando em tempo, eu gostaria de ter um parte do seu pra mim. Tempo é vasto, uma parte seria mínimo. Não que eu queira domínio sobre o tempo, só gostaria de um tempo dedicatório. O tempo que você reservava pra mim escrevendo com as próprias mãos isso era o maior privilégio que eu poderia ter. Saber que você parou e pensou no que escrever, e escreveu pausadamente para não errar nada, cada palavra, cada vírgula dedicada exclusivamente a mim, isso é incrível. Pouco tempo se bem utilizado se torna o maior feito. E eu amo quando você sabe usar o pouco tempo que te resta exclusivamente pra mim. Mas, esse tempo foi deixado de lado e agora o que eu tenho apenas é só o tempo que te sobra. Me sinto o último minuto das horas que você pretende usar. Não quero ser o último minuto, quero ser longas horas. Toda essa ocupação, todas essas obrigações, na verdade, tomam mais tempo que eu. E não quero que largue tudo, só quero um tempo, vou me contentar até com o tempo que te sobra, desde que seja apenas pra mim. E ficar esperando por esse tempo que te sobra me deixa com tempo de sobra. 
O mais incrível é que eu sempre estou aqui. Não demoro, não desvio, não atraso, é no tempo certo, quando acho certo, pontualmente. Não deixo nada passar da hora certa, e se passar, conserto. Estou sempre aqui, no tempo certo, com a resposta certa pra hora certa. Esperar pra mim já virou uma proeza, habilidade incontestável. O que eu já esperei poderá ser pouco em relação ao que está por vir, ou talvez não. Talvez eu esperei o tempo certo pra hora certa, o feito se realizar com perfeição. Esperar talvez seja o mais próximo que se chega da perfeição. Esperar é perfeito, porque é a paciência em ação, descansando na própria espera. Se me for garantido que terei o que quero no final, espero o tempo mais que for necessário. Esperar é pouco, o difícil é se conter. Porque a verdadeira tortura de esperar está em se conter em si, em seus desejos, em suas necessidades. Mas se conter é coragem, muita coragem. E sabe o que eu penso de gente fraca? Falta de coragem pra ser gente. 
Quanto a mim? Prefiro ser transparente e até invisível do que totalmente à exposição. Gosto de ser invisível, estar invisível, porque estou ali, mas quem garante que sim ou que não? Gosto de estar e ser transparente, afinal, o que passa por mim está em mim. E sem dúvidas, sou transparente ao tempo, porque ele passa por mim, e ninguém o vê, pois estou invisível. Quanto à você, gosto da sua aparência concreta, me solidifica. Enquanto estou criando mil e uma situações, você já é uma situação por mil. 
Eu ainda não descobri onde quero chegar com tudo isso. Talvez quando eu terminar eu descubra, claro, por enquanto vou indo sem saber onde parar.  Mas eu não quero parar. Acho que nasci pra esperar. A paciência que me faltava adquiri com o tempo, o mesmo que um dia eu quis acelerar. E se eu tivesse acelerado o tempo, não conheceria a paciência.  Tempo, vento, espera, a paciência vem, espera. Continue  a esperar, esperando, está conseguindo a paciência. Paciência se torna um vício de tanto esperar. O que contradiz a isso é a ansiedade. Paciência querendo tranquilizar a ansiedade, ansiedade querendo agilizaro que a paciência quer esperar, atordoante. Oposições paralelas que se inexistentes, quem ditará o tempo? 
O que são horas? O que são medidas? O que são números perto do que eu espero? Vou esperar um pouco mais, quem sabe? Um pouco a mais, um pouco a menos, só me trará mais um pouco de paciência. E quando isso tudo terminar, você vai pedir um pouco da minha paciência pra esperar eu me irritar com você. Sim, você sabe que nada me irritaria vindo de você. Faça um escândalo, assalte um banco, arranque um pedaço de mim, inválido; nada que você faça vai me irritar, não agora. A única coisa que me irrita é esperar, e como já esperei muito, o que pode me irritar agora? As horas vão virar cinzas perto do que eu sinto por você. E a paciência? Já que está sobrando paciência, será que eu posso vender pra quem precisa? Só tem uma coisa: Não vendo paciência fiado. 

Não gosto de TV

Não gosto de TV. 
Não gosto de TV porque ela, por sí só, já manipula o que eu vou ver e ouvir, e futuramente pensar. E não gosto disso. Não gosto de TV porque ela fala por mim e quer pensar por mim. Não gosto de TV porque prefiro falar o que penso, não o que ela quer que eu fale. Não gosto de TV porque eu quero ver o que gosto de ver, não o que ela me força a ver. Não gosto de TV porque ela quer que eu pense o que ela pensa, e não quero que pensem por mim. Não gosto de TV porque ela quer me vender o que não quero comprar. Não gosto de TV porque ela quer mostrar como as pessoas não são na realidade. Não gosto de TV porque ela fantasia a realidade. Não gosto de TV porque ela finger ser o que não existe, ela quer estar onde não pode. Não gosto de TV porque ela é restrita aos manipulados. 
Não gosto de TV porque ela consegue ir  a qualquer lugar, e com essa capacidade, ela consegue manipular qualquer coisa abrangente. Não gosto de TV porque ela favorece os mais favorecidos aos menos favorecidos. Não gosto de TV porque ela faz os menos favorecidos lembrar da sua própria situação de maneira tão doce, que parece ser tudo uma mentira. Não gosto de TV porque ela entra pelos olhos, fica na mente e sai pela boca. Não gosto de TV porque ela favorece quem é favorecido. Não gosto de TV porque ela vende ideias. Não gosto de TV porque ela vende pessoas.
 Não gosto de TV porque ela é a versão artística do capitalismo. Não gosto de TV porque ela é o forte manipulando o fraco de maneira gentil. Não gosto de TV porque ela manipula sentimentos, muitas vezes inexistentes. Não gosto de TV porque ela quer me dizer o que sentir, e o que eu sinto nem eu posso ditar. Não gosto de TV porque ela é feita pra vender e não estou afim de comprar o que me mandam comprar. Não gosto de TV porque ela quer me vestir, quer me consumir, quer me devorar, quer me engolir, quer vender, quer torturar, quer pensar, quer manipular, quer sonhar, quer pensar, quer imaginar, quer criar, e não preciso que façam isso por mim. 
Não gosto de TV porque ela parece gente. Não gosto de TV porque ela parece uma cidade. Sempre que vejo uma TV, imagino milhares de pessoas lá dentro fazendo com que tudo o que sai na tela seja feito por elas próprias, aprisionadas naquela caixa preta. Existem pessoas presas dentro da TV. 
Não gosto de TV porque nem ela gosta de si, é obrigada a fingir auto-estima. 
Entre tantas, várias e inúmeras razões eu não gosto de TV