sábado, 7 de agosto de 2010

Adquirindo paciência com o tempo

Eu adoraria se me respondesse mais rápido, sabe? Não exijo exclusividade, só uma parte do tempo. Não que eu não goste de esperar, o caso é que não se vende mais paciência e estou sem dinheiro. E se não posso comprar paciência, esperar se torna algo como uma crise de abstinência. Mas, talvez isso seja uma prova, e esperar seja o maior desafio. Afinal, o que é esperar? Tempo ou paciência? Se esperar for tempo, creio que não tenho nehuma noção do quanto ele passa. E se esperar for paciência, bem, acredito que posso continuar esperando porque a tenho de sobra. 
Mas o que mais me corrói é continuar esperando e esperando, sendo que está tão perto. Ao mesmo tempo que está perto está inalcalçável, porque o perto é tão longe quanto o longe mais distinto. 
Porque quando acredito que tenho entre as mãos, me escapa entre os dedos. Às vezes não gostaria de ter dedos, só pra não perder nada das mãos. O que eu quero não é posse, nem domínio, quero merecer. Quero ter o que posso por conquista, não por posse comprada. Quero em horas, minutos, segundos, todos os milésimos possíveis que eu puder conquistar. Quero cada centímetro, cada pedaço, cada milímetro, que eu puder conquistar. De cada centímetro quero explorar sem contar os minutos, nem deixar o tempo passar. Mas se a questão é conquista, bem, isso é algo que não tenho medo de realizar. 
Se a questão for desistir, isso seria bem difícil. Começar é fácil, pra mim, o difícil é desistir. Porque quando quero, agarro com os dentes e me coloco ao máximo. Quebro barreiras, conceitos, práticas, e até normas sociais pra conseguir o que pretendo. Se quiser que eu desista me dê um bom motivo, mas um motivo que me convença, porque desistir fácil e por qualquer coisa, definitivamente, não é comigo. Ir até onde der é pouco, o fundamental é ir até o fim. E no fim, quando chegar lá, como proceder? Chorar a glória alcançada, talvez descansar. Mas, que no fim, eu valorize meu mérito e não o despreze como qualquer. Desprezar o mérito me faria tão inútil quanto dizer que foi fácil. O que é fácil desgasta, banaliza, perde o encanto, e perante isso, nada mais me convém. O que me atrai é o difícil, insistente, inconquistável, é aí que vou jogar o meu resto de tempo. 
E ainda estou aqui esperando pelo meu inconquistável, bem conquistado. Acreditei que conseguiria, consegui, agora quero meu amplo mérito. Estou esperando pelo meu mérito, impacientemente. Mas ainda a paciência é algo que briga com minha ansiedade. A paciência que não posso comprar é suprida gratuitamente por  boas doses de ansiedade. Paciência é outra coisa que anda me escapando entre os dedos, enquanto a ansiedade nem tenta escapar. Mas, estou seguindo o ritmo que você dita, a maestria é toda sua. A mim só resta estar no compasso certo pra não estragar a melodia. 
E falando em tempo, eu gostaria de ter um parte do seu pra mim. Tempo é vasto, uma parte seria mínimo. Não que eu queira domínio sobre o tempo, só gostaria de um tempo dedicatório. O tempo que você reservava pra mim escrevendo com as próprias mãos isso era o maior privilégio que eu poderia ter. Saber que você parou e pensou no que escrever, e escreveu pausadamente para não errar nada, cada palavra, cada vírgula dedicada exclusivamente a mim, isso é incrível. Pouco tempo se bem utilizado se torna o maior feito. E eu amo quando você sabe usar o pouco tempo que te resta exclusivamente pra mim. Mas, esse tempo foi deixado de lado e agora o que eu tenho apenas é só o tempo que te sobra. Me sinto o último minuto das horas que você pretende usar. Não quero ser o último minuto, quero ser longas horas. Toda essa ocupação, todas essas obrigações, na verdade, tomam mais tempo que eu. E não quero que largue tudo, só quero um tempo, vou me contentar até com o tempo que te sobra, desde que seja apenas pra mim. E ficar esperando por esse tempo que te sobra me deixa com tempo de sobra. 
O mais incrível é que eu sempre estou aqui. Não demoro, não desvio, não atraso, é no tempo certo, quando acho certo, pontualmente. Não deixo nada passar da hora certa, e se passar, conserto. Estou sempre aqui, no tempo certo, com a resposta certa pra hora certa. Esperar pra mim já virou uma proeza, habilidade incontestável. O que eu já esperei poderá ser pouco em relação ao que está por vir, ou talvez não. Talvez eu esperei o tempo certo pra hora certa, o feito se realizar com perfeição. Esperar talvez seja o mais próximo que se chega da perfeição. Esperar é perfeito, porque é a paciência em ação, descansando na própria espera. Se me for garantido que terei o que quero no final, espero o tempo mais que for necessário. Esperar é pouco, o difícil é se conter. Porque a verdadeira tortura de esperar está em se conter em si, em seus desejos, em suas necessidades. Mas se conter é coragem, muita coragem. E sabe o que eu penso de gente fraca? Falta de coragem pra ser gente. 
Quanto a mim? Prefiro ser transparente e até invisível do que totalmente à exposição. Gosto de ser invisível, estar invisível, porque estou ali, mas quem garante que sim ou que não? Gosto de estar e ser transparente, afinal, o que passa por mim está em mim. E sem dúvidas, sou transparente ao tempo, porque ele passa por mim, e ninguém o vê, pois estou invisível. Quanto à você, gosto da sua aparência concreta, me solidifica. Enquanto estou criando mil e uma situações, você já é uma situação por mil. 
Eu ainda não descobri onde quero chegar com tudo isso. Talvez quando eu terminar eu descubra, claro, por enquanto vou indo sem saber onde parar.  Mas eu não quero parar. Acho que nasci pra esperar. A paciência que me faltava adquiri com o tempo, o mesmo que um dia eu quis acelerar. E se eu tivesse acelerado o tempo, não conheceria a paciência.  Tempo, vento, espera, a paciência vem, espera. Continue  a esperar, esperando, está conseguindo a paciência. Paciência se torna um vício de tanto esperar. O que contradiz a isso é a ansiedade. Paciência querendo tranquilizar a ansiedade, ansiedade querendo agilizaro que a paciência quer esperar, atordoante. Oposições paralelas que se inexistentes, quem ditará o tempo? 
O que são horas? O que são medidas? O que são números perto do que eu espero? Vou esperar um pouco mais, quem sabe? Um pouco a mais, um pouco a menos, só me trará mais um pouco de paciência. E quando isso tudo terminar, você vai pedir um pouco da minha paciência pra esperar eu me irritar com você. Sim, você sabe que nada me irritaria vindo de você. Faça um escândalo, assalte um banco, arranque um pedaço de mim, inválido; nada que você faça vai me irritar, não agora. A única coisa que me irrita é esperar, e como já esperei muito, o que pode me irritar agora? As horas vão virar cinzas perto do que eu sinto por você. E a paciência? Já que está sobrando paciência, será que eu posso vender pra quem precisa? Só tem uma coisa: Não vendo paciência fiado. 

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