domingo, 8 de agosto de 2010

Sobre um grande homem

De repente, percebi que nunca disse ao meu pai o quanto eu o amo. Sei que vou sentir falta disso futuramente, e até me arrender. Talvez essa seja a única coisa de que realmente vou me arrepender, já que nunca me arrependo. Não que eu não ame meu pai, é que me faltam palavras pra dizer o quanto. E nós nunca falamos sobre isso, nunca dizemos o quanto nos amamos, eu não digo a ele, e muito menos ele a mim. Isto não quer dizer que não nos amamos, mas me faz lembrar o quanto dizer e ouvir seria ótimo. A culpa não é dele, nem minha, não há culpa nisso, há falta de palavras. 
As coisas realmente não são como na TV. As famílias não são como na TV. Os pais não contam histórias para os filhos dormirem e os filhos não deixam recados na geladeira como na TV. Talvez seja por isso não sejamos felizes; porque idealizamos a felicidade que a TV nos vende. E vemos famílias felizes, com filhos saudáveis, pais muito bem casados, uma grande casa, um cachorro e finais de semana com a família toda em algum lugar bonito ou até mesmo reuniões de família ao redor da mesa. Queremos acreditar nisso, mas é inválido, porque está somente na TV. 
Não tenho o que reclamar, não mesmo. Tenho uma ótima família, pais bem casados, só não tenho o cachorro e os finais de semana em algum lugar bonito. Mas quem se importa realmente? Eu não sei o que dizer ao certo, mas nada é perfeito, sem exceções. São pessoas e pessoas, pessoas com pessoas, pessoas entre pessoas, não há perfeição em pessoas. E somos pessoas, sabemos das nossas imperfeições, então por que nos cobramos perfeições de algo que não pode ser extraído? 
Apesar de não ter aquela vida que se venda na TV, tive uma ótima criação. Minha mãe teve a função de cuidar de mim, zelar por mim, asseguar minha educação, meu desenvolvimento, meu crescimento, minha dignidade e tudo o mais. Minha mãe me deu os princípios básicos de sobrevivência, ética e civilização, uma grande papel muito bem realizado. Não tenho o que reclamar nessa parte, pois ela exerceu muito bem seu papel de mãe. Como já disse, nada é perfeito. Sim, minha mãe também se enquadra nisso. Foram tantos segredos confiados, que erroneamente ela deixou escapar. Tantas confissões feitas, que inexplicavelmente ela julgou sem saber. Tantos atos cometidos, tantos erros, tantos acertos, tantas quedas, que ela soubre criticar sem justificativa. Mas não a julgo, não mesmo. Ela foi criada de uma forma a ver tudo como tem que ser, tudo corretamente, tudo socialmente. Eu nasci com a tendência de quebrar regras e questionar o inquestionável. Somos realidades e personalidades opostas, e querendo ou não, conflitos existem. Conflitos existem a princípio de mostrar o quanto diversos são os conceitos. E por falar em conceitos, aprendi vários com minha mãe, do tipo "Não faça como eu, estude, estude, estude e trabalhe, se realize, depois você terá tempo para outras coisas". Quando ela diz outras coisas ela se refere à relacionamentos, amigos, diversão e tudo o mais. Sempre discordo quando ela diz que sempre tem a razão, pois não tem. E acho incerto ela não deixar eu aprender por mim mesma o que ela também já aprendeu. Não, mãe, eu não quero que me diga o que vai acontecer, eu quero ver por mim o que virá. Você ensinou o que eu tinha que aprender, então agora sinta-se segura de seus ensinamentos. 
Quanto ao meu pai, bem, meu pai é uma personalidade. Meu pai foi a parte que influenciou totalmente na minha personalidade. Tudo o que sou culturalmente e intelectualmente eu devo ao meu pai. Minha mãe nunca teve muita paciência pra isso, e também nunca teve muito o que dizer sobre isso. Não que minha mãe não seja uma pessoa de cultura, o caso é que não é uma cultura tão vasta quanto a do meu pai. Meu pai não trabalhou muito em mim o lado sentimentalista ou algo do tipo, mas eu sei que ele expressava todo o sentimento que tem por mim através do que me ensinava. E ele me ensinou muita, mas muita coisa mesmo à partir do que conhecia. 
Desde criança meu pai me fazia ouvir os vinis que ele tinha. Tinha, porque na verdade hoje os vinis dele são todos meus. Não que eu tenha tomado posse, mas foi algo que ele confiou gentilmente à mim. O calor dos vinis que meu pai ouvia quando era jovem foi passado dele para mim. E com aqueles vinis eu aprendi sons, músicas, letras e sobre homens. Sim, sobre homens que fizeram as verdadeiras músicas. Meu pai me fazia ouvir U2 com ele como se fosse uma espécie de aventura. E pra mim era uma aventura! Ouvir Bono cantar suas poesias urbanas e os acordes do The Edge, aquilo era o que mais de emocionante tinha para mim. Ele me fazia viajar ouvindo Pink Floyd. Lembro me até hoje das ilustrações do album do The Wall que meu pai me mostrava quando eu era criança e minha mãe dizia pra ele parar de me assustar com aqueles desenhos. Me assustar? Ah, pare, mãe, papai só estava me fazendo imaginar. E posso assegurar, que isso tudo me fazia imaginar, de fato. 
Mas não só de U2 e Pink Floyd foi feita minha infância. Papai me ensinou a ouvir as canções da maior compositora que eu já conheci: Alanis Morissette. Sim, e posso dizer que ela foi a principal influenciadora da minha personalidade forte e crítica que tenho hoje. Papai me motivava a ter uma mente crítica e forte em relação ao mundo e por isso me deixava ouvindo Alanis Morissette. Claro, eram letras em inglês, e obviamente eu não entendia nada, mas quem garante que eu não sentia a essência da música? Era isso que meu pai queria me ensinar: A aprender que música não era só letra, era melodia, era interpretação. 
Existem várias e várias músicas que fizeram minha infância, claro. Hoje, justamente, eu as escuto porque meu pai me ensinou assim. Ele deixava o rádio ligado em boas estações que tocavam boas músicas, bom rock, e assim eu cresci tão apurada pra música.  Com o tempo aprendi mais e mais sobre música, mas sempre boa música. Nunca decepcionei meu pai musicalmente, disso ele tem orgulho, eu sei. Ele sabe que educou muito bem meus ouvidos a ouvir boa música e sabe que jamais encontraria em meu player algo que desclassificasse isso. 
Engana-se quem pensa que meu pai me ensinou somente sobre música. Papai foi um dos grandes motivos por eu amar a arte, todo tipo de arte. Quando eu era criança, nós desenhávamos juntos. Até hoje eu amo os desenhos do papai. Meu pai me ensinou a essência do surrealismo e do imaginário. Ele fazia eu imaginar o impossível e fazer com que esse impossível se realizasse na arte. Papai sempre me achou extremamente criativa e imaginativa, e de fato, isso eu sou até hoje, mas posso admitir que boa parte disso foi pelos exercícios que ele me propunha. 
Além dos desenhos, papai me ensinou a gostar de revistas e HQ's. Sim, até hoje eu tenho esse enorme fascínio pelos dois. Eu recortava revistas quando era criança, hoje eu transformo recortes em uma forma de arte pessoal. Os personagens dos quadrinhos me faziam querer ser uma heroína, e até hoje eu quero. Mas para o meu pai eu sempre vou ser a heroína dele. 
Fotografia! Meu pai me fazia ter um olhar crítico sobre isso desde criança. Ele entregava revistas, discos e até jornais pra eu ficar olhando as fotografias. Nessa época eu criei, sublinarmente, meus conceitos estéticos sobre fotografia. Hoje, meu pai se orgulha infinitamente quando me vê fotografando ou quando vê uma foto que eu tirei. Eu sei que no fundo ele pensa "ela aprendeu o que eu quis ensinar". 
E escrever, hein? Pois é, tudo isso que eu via e fazia, me ensinou a ter criatividade, crítica e conceitos suficientes pra escrever da forma que escrevo hoje. Claro, sempre tem algo pra melhorar, mas ninguém pode melhorar meu ponto de vista. Ponto de vista esse que meu pai também influenciou. 
Quem lê tudo isso pensa que meu pai é uma espécie de intelectual moderno ou algo do tipo, pois acredite, não é. Meu pai é um homem comum quanto tantos outros,  a diferença está no que ele construiu intelectualmente dentro de si. Porque um homem não é o que possui, é o que pensa.  E meu pai não possuía nada, nada mesmo, nem fortuna, nem propriedades, nem contas bancárias, mas meu pai tinha todo um conhecimento e uma cultura tão vastos que eram maiores que qualquer conta suíça. E o que eu aprendi com isso? Aprendi o conhecimento. Podem me tirar tudo, mas se eu tiver conhecimento nada perco. 
E sabe? Pra mim meu pai é o único homem do mundo. Não que eu tenha uma certa "queda" por meu pai, nada disso, eu digo que ele é o único homem por ser digno de ser chamado de homem. Meu pai é o único homem que realmente merece meu respeito, minha dedicação e meu amor, porque ele é o único homem digno de tudo isso. Minha mãe tem sorte de o ter como marido, mas eu tenho mais sorte ainda de tê-lo como pai, porque tenho o seu sangue. 
Acredite, eu sempre serei a garotinha dele. Enquanto outras reclamariam, eu agradeço. Porque meu pai é o único homem que sabe que eu cresço, mas sempre vou continuar sendo uma garotinha. E mesmo que eu cresça, me fortifique, me sobressaia, sempre serei frágil, e ele conhece essa fragilidade. Mas minha fragilidade não é transtornável, é apenas uma coisa boba. Não que eu seja frágil ao extremo, mas sempre há a recaída. Eu me finjo forte e inabalável para todo o mundo, mas só eu sei quando estou frágil por dentro. E meu pai me ensinou a ser forte. E sabe? Pai, você é o cara. O cara que realmente me ensinou a ver entre as coisas. E fique tranquilo, nunca nenhum outro cara vai tomar o seu lugar. 

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