quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Aquilo que dói

Eu só queria, em pouca porcentagem, entender o que se passa nessa sua cabeça. Talvez eu me decepcione quando descobrir que dentro da sua cabeça não tenho nem um valor abaixo de zero. Vai doer, eu sei que vai, mas uma dor a mais, uma dor a menos vindo de você, já é anestesia. 
Eu não consigo entender essa sua mania de sumir e querer fingir quando eu me mostro até os ossos pra você. Você fugiu uma vez quando eu ainda nem sabia o que era, e agora fugiu de vez quando percebeu o que sou. E me disse que todas as minhas palavras eram as mais lindas, mas onde você deixou o sentimento que tinha por elas? Disse-me que eu era a única pessoa que lhe dizia as palavras que jamais escutou de outro alguém, e agora você caiu no ensurdecimento. Me lembro até então quando disse-me que eu a pessoa mais única, mais admirável, adorável pra você, e agora caio no esquecimento. Ou eu sou muito pra você ou você é muito pra mim e vamos ter que fiscalizar as proporções ou anular nossas existências. Mas considero bem difícil, bem complicado, bem torturador tentar esquecer algo que sempre faço questão de querer lembrar. 
Eu lhe mostrei todos meus sentimentos que se destinam à sua existência e, não sei, parece que não significam nada ao seu ver. Alguém já lhe disse que é a coisa mais linda do mundo? Alguém já lhe disse que é a coisa mais inesquecível, mesmo que apareça em questão de segundos? Alguém já lhe disse que toda essa sua desatenção é totalmente apaixonante? Alguém já lhe disse que essas suas crises são as crises mais adoráveis? Alguém já lhe disse que adoraria beijar as mãos de sua mãe em agradecimento por colocar-lhe no mundo? Não se lhe disseram, mas se não disseram são tolos, e se digo é porque sou o maior deles. Sou o ser totalmente mais tolo por você e mesmo assim, mesmo sabendo disto, só faz aumentar minhas tolices. Tem a mim às mãos e sabendo disto me monta, desmonta, como quem brinca. Um dia, quando eu desmontar de vez, nem mesmo você poderá consertar. 
Eu deveria saber, desde a primeira vez, que insistir era bobagem, mas é tão difícil desistir de algo que tanto se quer. Mas estou pensando seriamente em desistir já que não me traz benefícios. Penso seriamente em desistir, não porque não quero mais, mas porque talvez você não me queira por perto. Se brinca ao dizer que me ama mostro toda a minha seriedade em dizer que jamais menti quanto ao meu amor. 
Me sangra os olhos ver todas aquelas suas palavras passadas que pareciam tão verdadeiras e agora parecem copiadas de um texto qualquer. Me sangra a alma sentir que o meu sentimento jamais mudou, mas que o seu jamais existiu. Se existiu sentimento, não sei, mas sei que não foi na mesma intensidade. Sangra me o coração ao pulsar quando vê sua existência em minha frente mas que jamais vê a minha. Sangra me a carne quando sinto aquele arrepio ou aquele frio ao lembrar de um certo abraço que talvez não o tenha novamente. Sangre me o sangue enquanto escorrem lágrimas que deveriam ser de contentamento mas são de desapontamento. 
Mas vou continuar sentindo falta, vontade de falar, de ir atrás, mas não vou porque não quero desperdiçar as doses de orgulho que comprei hoje. Acontece que todo o orgulho que tinha, deixei de lado pra me calçar os pés de coragem pra ir atrás de você e agora tive que tomar minhas doses habituais de orgulho pra tomar vergonha na cara e ficar totalmente indiferente. Fico indiferente o bastante porque me importo o suficiente pra pensar sobre algo e dizer que sou indiferente. Toda indiferença tem consciência do objeto em questão, o caso é que se cria um certo desprezo quanto a ele. Eu fico fingindo desprezo público da sua existência mas particularmente é a coisa com que mais me importo. 
É aquela vontade de te ver, e chorar, e abraçar, e dizer tudo o que se tem a dizer, e talvez bater pra aliviar, e dizer que amo mais que tudo. É aquele choro que vem à noite quando escuto alguma música que me faz lembrar o quanto me faz te lembrar. É aquela coisa de olhar pra qualquer canto e qualquer coisa lembrar alguma coisa em você. É aquele abraço que ninguém mais tem além de você e mesmo que eu esteja em outros abraços jamais serão os seus. E mesmo que eu esteja em outros braços, jamais serão os seus. É aquele livro todo que eu tenho a lhe dizer mas que na hora vou esquecer ao te ver. É aquele livro todo que escrevi pra te explicar o sentimento que não tem explicação nem razão. É aquele vocubulário todo que decorei pra lhe dizer mas que na verdade o silêncio diria tudo. É aquela interpretação toda que ensaiei pra te explicar, mas que só um olhar diria tudo. São aqueles diálogos imaginários e intermináveis que criei entre nós, mas que na hora mudam. É aquele tapa que eu queria tanto lhe dar pra poder fazer você acordar e ver o quanto lhe amo e depois chorar, e me desculpar, e lhe beijar a face pra dor cessar.  É aquele alívio de ver que não esperei em vão o que sempre quis e que agora tudo estará bem com você por perto. É aquela sua carta que guardo até hoje e que parece ser a coisa mais boba do mundo, mas é a coisa mais importante do meu. É aquela vontade de dar-lhe todo o meu amor sem querer nenhum ouro, apenas o seu amor em quilates impagáveis. É aquela vontade de estar pra sempre com você, sabendo que o pra sempre se resume a uma vida toda. 
E você não se importa, não é? Você não sabe o que é o amor se jamais amou. Você talvez tenha amado, ou achou que amou, mas jamais amou verdadeiramente. Eu sei, amor não se mede, não se compara, mas não se pode enganar acreditando que amou o que já se esqueceu em segundos. Jamais amou se não passou noites chorando, sentindo falta ou imaginando o que o outro está a fazer. 
Não, amor não dói, o sofrimento é que machuca. Amor não machuca, cura, são as decepções que rasgam o coração, não o amor. Amor não corta, não deixa cicatrizes, não rompe, mas as pessoas sim. Amor não esquece, não deixa passar, não deixa pra lá, não deixa de existir, mas sim as pessoas. São todas crianças descobrindo o que é amar e quando crescerem terão tantas cicatrizes pra contar histórias de amor. 
Mas tudo bem, tudo isso vai se curar, se cicatrizar, mas eu jamais vou esquecer. As dores passam, mas jamais são esquecidas. As cicatrizes ficam, mas jamais serão removidas. E meu coração sempre pulsará como da primeira vez que lhe vi e jamais pulsará no mesmo ritmo por outro alguém. 

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Gelo

Há um certo gelo em mim que temo em derreter por medo de me afogar. Mas talvez o melhor que eu faça seja me afogar em mim ao invés de me afogar em águas alheias. Mas talvez eu nem queira que esse certo gelo em mim derreta porque talvez seja ele que motiva a procurar um aquecer. 
Eu não quero inundar, mas talvez chover. Eu quero me manter internamente nesta temperatura nórdica, ao invés de um incessante calor. Eu já pensei que, se eu me aquecesse em outro alguém, seria uma sollução para ser algo com mais calor humano, mas isso é em vão já que todos estão preocupados em derreter suas próprias geleiras. Eu nem me preocupo com esse meu gelo interno, mas me incomodo em ver essa geleria comunitária. 
O que eu digo é que meu gelo é um acúmulo frio de situações que me forçaram a ser indiferente. Não que eu não sinta, eu sinto, mas já não mais me decepciono. São situações de falsos amores, erros, oportunidades não alcançadas, amigos irreais, que me congelaram. E então, não mais espero, não mais me iludo, não mais me decepciono porque há um bloqueio gelado que impede. Eu apenas desfaço, mas nunca me desfaço. 
É a minha incrível capacidade de, automaticamente, esquecer o que me faz ou me fez mal. Ficar indiferente em frente ao que me faz mal e esquecer. Eu deixo de amar em pouco tempo aquele falso amor de tal forma que me esqueço o que sentia. Não que meu amor fosse fraco, falso ou passageiro, mas é que automaticamente me desfaço de amores que não têm funções. Aquele que era meu mais fiel amigo e se tornou o inverso, também  desfaço. Não que eu não considere um amigo como tal, mas desfaço quando me faz mal porque não quero magoá-lo com a mesma dor. Não que eu me esqueça de tudo, eu só faço questão de esquecer o que é inválido. Eu perdoo erros alheios, perdoo traições carnais, perdoo deslizes sentimentais, mas jamais me esqueço. 
E não insisto, não vou atrás, não mais. Minha persistência já desistiu dessa insistência inválida em algo que nunca valeu e nem valerá. E o mais certo a fazer é deixar. Deixar passar, deixar pra lá, deixar. Porque eu não vou atrás nem de mim quando me perco, quem dirá eu ir atrás de outos pra encontrar? Talvez quando alguém quiser me encontrar eu já não queira mais estar lá. Esperar até quando for necessário; quando desnecessário, partir. 
Eu cansei, mas cansei não por não ter mais recursos para insistir, eu cansei porque isso não me levará a nada, jamais. Eu erro uma vez, tento consertar na segunda por insistência, na terceira me vem a desistência e a consciência diz que não me valei mais. Eu insisto até ver onde posso, onde ainda há uma certa esperança, quando não mais, parto. 
Em meio a tanta fortaleza, choro. Choro porque preciso me desfazer do que me assola e deixar vazar uma suposta dor. Choro porque águas internas e paradas precisam se renovar antes de validar. Chorar tudo o que tiver que desaguar, mas jamais se acomodar nesse conforto e antes que as lágrimas sequem, partir para confrontar a solução. 
Mesmo que meu gelo derreta, a carne chore e eu me afogue, eu jamais serei aquela fina película humana que se rompe em qualquer situação. 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Interno

Não vou dizer que é um erro tornar-lhe unicamente o único ser do mundo, porque quem nunca fez de alguém único não sabe o que e zelar. E jamais cobro reciprocidade, só peço reconhecimento. Eu prefiro o errar amando ao acertar indiferente. O erro deve estar no pensar. Se não pudesse pensar não pensaria em sofrimento, dor, amar, contentamento, descontentar e pseudo alegrias.  Nem me importa mais sofrer a indiferença para com meus sentimentos, pois sei que são os mais inocentes. É o continuar amando depois do ódio, o dizer sim mesmo sabendo do não, o se contentar mesmo no pranto. É a dor que paira existencialmente que contrasta com o insistir em obter uma suposta alegria nesta. É o ser fútil para o mundo e se passar por segunda ou até mesmo última opção e te adotar como prioridade. 
Tornar-lhe unicamente a única razão mesmo sabendo que isso é irracional. Dizer-lhe todas as coisas mais plausíveis e se presentear com um silêncio. Felicitar-me com tua felicidade mesmo sabendo que não sou a causa desta. Criar os dialógos mais cinematográficos, colocar-lhe como personagem principal e jamais interpretá-los. E no fim, dar-lhe todo o meu pranto e nem ao menos receber uma comoção. 
Manifesta-se fisicamente meus arrebatamentos mas de tal forma que cabe apenas ao meu ver. É a dor que toma forma física em mim, mas jamais e torna visível aos olhos alheios. O sofrimento que escondo até de mim, mas sempre acabo encontrando-o. Minha incrível capacidade de dizer que está tudo bem, que não há nada de errado e de estar sempre forte quando na verdade é ao contrário. Me destruindo por dentro e mesmo assim dizendo que não há nada de errado. Quando eu resolver desabar não háverá nenhuma força anti-gravitacional que me fará levantar. Desabando lentamente, aos poucos, não completamente, porque ainda deve haver alguma forma de se restaurar antes de ir ao chão. 
Aquela sensação de respirar e não sentir via, apenas oxigênio. Aquela sensaçao de de acordar e não sentir vida, apenas mais sono. Aquela sensação de se cortar e não sentir vida, apenas dor. Aquela sensação de ter sangue e não sentir vida, apenas glóbulos. Aquela sensação de se queimar e não sentir vida, apenas um esfriamento do ser. Aquela sensação de cair e não sentir vida, apenas o chão. Aquela sensação de adormecer e não sentir vida, apenas vontade de nunca acordar. Aquela sensação de existir e não sentir vida, apenas invisibilidade. 
E o meu viver anda baseando-se no aparentemente, no visivelmente, no impressionante. Mostrar que está tudo bem quando na verdade meu tudo já virou nada. Por favor, sem martírios, dramas, carmas, alarmes, senhas, presentes ou surpresas. Doa-me sangue, ânimo, vida, um sopro de existência, mas não me venha com ouro. 
Mais uma vez vou esquecer todas as senhas e me trancar em mim. Decodificadores serão inválidos.

Um suposto eu

Um pedaço esporádico do mundo que na absorção deste, encontra-se e se perde, mas jamais deixa de existir. E se deixo de existir, renasço do meu ser e tento ser o que não consegui antes de partir. E antes de partir não faço malas, nem mudanças, vou de imprevistos sem nada previsto. E vivo, e choro, e parto, e me reparto, me desfaço, mas qual a graça de se manter tudo intacto? Quero me quebrar, me partir, chorar, me desfazer e me refazer e jamais cansar. E se cansar, darei-me tempo pra descansar e retomar em mim o ponto inicial pra chegar a minha própria conclusão. E se não houver uma conclusão darei-me uma razão para encontrá-la antes que a façam por mim. Porque o meu maior repúdio é deixar que façam por mim o que posso fazer por si só. 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Nós

Nada por nós, nada entre nós, nada para nós, nada que ficou de nós. Nós entre nós, nós que são desfeitos com o tempo, nós que esperávamos não desfazerem com o tempo. Nós que nos entreleçavam, nos uníamos, se desamarram com o vento. Nós que acreditávamos que nós nos uniriam, apenas nos colidiram. Nós que de nós não restou um nó.
Tudo por nós, tudo entre nós, tudo para nós, tudo que ficou de nós está contra nós. Tudo o que nos uniu, hoje nos desfaz. Todos aqueles nós que nos uniam, hoje nos desfazem. Todos aqueles nós que nos amarravam se desamarraram. Tudo o que havia por nós, nós afastamos. Tudo o que havia entre nós está fora de nós. Tudo o que havia para nós já não nos é de direito. Tudo o que ficou de nós apenas ficou para contar nossas histórias de um dia. Tudo o que ficou contra nós, conseguiu nos deteriorar. 
E agora, nós já não somos nós. Nós já não somos nós, entre nós não há mais nós. Nós deixamos que os nós se desfizessem; sim, nós! Os nós que nós tínhamos unindo, hoje nos são cordas lisas. Dos nós que nós uniam só restaram cordas marcadas. 
Não me lembro quantos nós havia em nós, nem quantos  eram de nós. Só sei que nós já não somos nós. Nós não somos nós nem temos mais os nossos nós. 
Nós que queríamos que nossos nós jamais se afrouxassem, muito menos desamarrassem. Nós que nos unimos em nós, nós que nos apoiamos em nós, nós que nos fortaleciam. Nós que nos desamarramos, nós que desenlaçamos nossos nós. 
Nosso maior erro foi nos fechar em uma noz. 

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Falta da falta

Sinto falta, em demasia, dos tempos em que, mesmo distante, nos falávamos todos os dias e ansiávamos sempre por isto. Sinto falta dos tempos em que éramos inocentes e nós amávamos sem saber que isso era amor de verdade. Sinto falta dos tempos em que tempo não nos preocupava e tínhamos de sobra pra compartilhar. 
Sinto falta da primeira vez que nos vimos, do primeiro abraço, do primeiro sorriso, tímido, porém inesqucível. Sinto falta das incansáveis palavras, intermináveis, e até repetidas, que dedicava à mim. Sinto falta das primeiras descobertas, das primeiras coincidências, das primeiras perturbações. 
Sinto falta da minha primeira dúvida, da minha primeira incerteza, da minha primeira dor. Sinto falta da primeira repulsa, da primeira aversão, do primeiro asco. Sinto falta daquelas lágrimas que me cortavam a face sempre que me vinham aos olhos. 
Sinto falta do sofrimento que me flagelou, mas já cicatrizou, e foram meus melhores aprendizados. Sinto falta de algumas feridas que já cicatrizaram, mas jamais partiram. Sinto falta de algum sangue que corria por aqui e agora, não mais, não mais porque se renovou. 
Sinto falta de sentir falta do que jamais tive. Sinto falta da falta que jamais se fez presente. Sinto falta da ausência que me faz e da presença que ausenta. 
Sinto falta de faltar. 

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Indiferença

No dia em que nasci algum demônio ou coisa do tipo entrou em mim, porque não é possível essa minha indiferença e frieza às vezes. Não, minha frieza e indiferença não são provenientes de algo demoníaco ou coisa do tipo, são consequências do fato de conhecer as pessoas. Demônios nem existem, cada pessoa é o seu próprio demônio. Demônios particulares e pessoais.
Fico indiferente às pessoas porque o egocentrismo delas me esfria. Já desisti de me importar com algo que não faz parte da minha vida e que em troca não terei o mesmo. Reciprocidade não existe entre pessoas, existe entre finanças, negócios, prostituição, mas não entre pessoas. Entre pessoas existe uma espécie de egoísmo que quer tudo para si e não doa nada de si. 
Se morre, se vai, se fica, se largou, se nasceu, fico indiferente. Se é comigo, mesmo assim fico indiferente. Sempre há no fundo um sentimento, mas já nem vejo necessidade em expressá-lo a não ser que seja a indiferença. Porque não vale mais dizer o quanto sinto, o quanto me lamento, o quanto necessito, não importa à ninguém. Se digo o quanto sinto ninguém mais dirá que sente o mesmo. Se digo o quanto lamento, minhas lamúrias soam em vão. Se digo o quanto necessito, farão questão de que não supra minha necessidade. 
Não que eu não tenha sentimentos, tenho, em excesso e verdadeiros, mas só os demonstro quando são valorizados. Tenho meus sentimentos como tantas outras pessoas, e se duvidar, mais que elas.  Não é porque não digo que amo seja porque não ame, talvez eu não precise dizer pra amar. Não é porque não digo que sinto seja porque não sinto, talvez sentir consista em sentir e não em dizer. Não é porque não digo que lamento seja que eu não lamente, talvez eu não precise dizer, apenas ter alguma lamúria.  Sentimentos não são ditos, são expressos. 
Aprenda que não se mede sentimentos em grandezas físicas, não é físico, esqueça as milimetragens. Não tente medir sentimentos com réguas, talvez não exista medidas suficientes. Aprenda que um sentimento não é maior ou menor que outro se expressado em excesso ou em ausência. Aprenda que o que parece ser o mínimo de alguém, talvez seja o máximo que ela está dando de si. Aprenda que o que parece ser o insignificante de alguém, talvez seja o mais significativo do mundo. Aprenda que o que você acha pouco, talvez seja o excessivo que lhe será garantido. Aprenda que sentimento é sentimento e não um valor na bolsa de valores. 
Mesmo desacreditando na incapacidade das pessoas em reconhecer o esforço alheio, ainda acredito que alguém se salve. Apesar de tudo, ainda acredito na raça humana, nos sentimentos humanos e talvez, em alguma esperança. Esperança é a última que morre se houver pessoas vivas.  E no fundo, eu nem tenha tanta indiferença assim, talvez só quando necessário. Mas, só pra não perder o hábito: eu não me importo, não mesmo. 

sábado, 4 de setembro de 2010

Roteiro

Às vezes eu duvido que isso tudo seja de verdade realmente. Duvido até de mim quando possível, então é normal eu duvidar de você. E se ao invés de me dar uma dúvida você me poderia concretizar uma certeza, não?
Mas se me acordar à 5 da manhã com uma mensagem dizendo que me ama, vou perder o sono em ambos os sentidos e nem vou reclamar. Dizendo ou não que me ama eu já perco o sono. Perco o sono por duvidar que me ame, mas perco se disser que ama. E se ao invés de me tirar o sono, por que não me tira o ar? Me deixe sem sono, sem ar, sem sede, sem fome, mas não me deixe sem você. 
Sabe o silêncio? O silêncio me faz escutar o vazio. Sabe o vazio? O vazio me faz sentir frio. Sabe o frio? O frio tem gosto de ausência? Sabe ausência? Essa me lembra você. 
Eu quero acordar, te ver ao lado, fingir que estou dormindo só pra te ver acordar, e te acordar, te acordar a cada dia de uma forma diferente, e ver você sorrir, e ver você olhar pro relógio e dizer que se atrasou, e fazer cara de preocupação querendo sair da cama, e eu te puxo rindo, te aviso que é sábado, e você ri o riso mais lindo e volta pra cama comigo, e diz que eu não presto por gostar da sua cara de preocupação, e eu rio do seu riso e digo que amo qualquer cara que você faça, e te beijo e você ri, e você me pede pra parar, eu paro e faço cara de poucos amigos e você ri e me beija, eu finjo não gostar e te puxo pra mim e te guardo pra mim, e ficamos ali até tomar o café, aquele café bem forte que tanto amo, mas não amo mais que você, e você me pergunta o que faremos hoje e eu digo que vamos ficar o dia todo na cama, e você ri, eu ironizo "quer coisa melhor?, e você diz que tem um lindo dia ensolarado lá fora pra ficar o dia todo  na cama e eu sugiro que levemos a cama lá pra fora então, e você ri e diz que eu sempre tenho a imaginação fértil, eu deixo a xícara de café e te abraço, e é aí que quero ficar mas você ainda prefere o dia de sol lá fora, então vamos lá fora aproveitar seu dia de sol e eu digo que quero te fotografar, e você pergunta se eu nunca me enjoo de sempre te fotografar e eu respondo que se me cansasse teria escondido minha câmera no porão e jamais fotografaria alguém, e você ri e diz que eu sou a pessoa mais boba que já conheceu, eu rio e digo que é um exagero da sua parte porque existem pessoas mais bobas como eu, como políticos, por exemplo, e você ri mais ainda e pergunta se sei que me ama e eu respondo que se quiser repetir não vou achar ruim, e você me puxa pela cintura e me beija, tropeço e caímos na grama, e você ri e fica me olhando porque eu sempre me desajeito com alguma coisa e fico com as bochechas coradas e você diz que é a coisa mais adorável do mundo, e eu me deito no seu peito e esqueço das fotografias que ia fazer, esqueço do tempo, esqueço do sol, esqueço de tudo porque só escuto  o seu coração bater enquanto me afaga os cabelos, e vem um trovão atrapalhar o som do seu coração, e você diz que vai chover, eu nem me importo, apenas guardo a câmera, e cai uma gota, outra gota, outra gota desliza sobre seus lábios mas fico com ciúmes e trato de tirar ela dali te beijando, e chove, e você quer se levantar e eu digo que não, que quero ficar ali na chuva com você, na grama, no chão molhado mas mesmo assim você se levanta e quer ir andando, e vai andando e eu te puxo pelo braço e te beijo, você se rende, se rende à mim, à chuva, à agua entre nós, e seu corpo molhado, seus lábios com gosto de chuva, seu cabelo molhando entre minhas mãos e você diz que eu sou a pessoa mais insana que conheceu e que depois não vai me levar ao médico se eu ficar doente, eu  nem ligo, só quero você e a chuva, e a chuva piora e agora sim eu resolvo que é melhor irmos, e você corre e me puxa pela mão, e corremos, corremos pela chuva e chegamos em casa, mas eu nem quero tomar banho quente, mas você insiste que eu vá, eu vou enquanto você faz meu chá preferido, eu termino e você vai tomar o seu banho, eu pego o chá e me sento na escada, acendo um daqueles cigarros com sabor que eu só fumo às vezes e fico vendo a chuva cair, e o chá me conforta, e o cigarro me distrai, e você aparece na ponta da escada e me pergunta o que estou fazendo com o cigarro na mão e eu respondo que logicamente estou fumando, e você desce as escadas, me rouba o cigarro e diz pra não fazer mais isso, fico com cara de espanto  mas você completa que não é pra fazer mais isso sem te oferecer, e eu rio e você traga o cigarro com gosto e toma do meu chá e pergunta se eu não quero voltar pra cama, e eu digo que era o que eu mais queria desde o começo do dia mas você insistiu no dia ensolarado, e você ri e diz pra olhar lá fora e que eu diga onde está o dia ensolarado, e eu respondo que meu dia ensolarado está na cama ao seu lado, e você esquece chá, esquece cigarro e me leva pra cima, e me beija, me beija, me beija e me leva pra cama e me pede pra ficar, pra ficar na cama, pra ficar com você, pra ficar em você, pra morar em você, pra viver em você e eu respondo que o que eu mais quero é viver pra viver com você. 
E mais uma vez, eu e minha imaginação fértil. 

Relatos de tempo

Preciso parar de ser inútil, ficar imóvel com o tempo, deixar o tempo passar por mim como se fosse nada. Como se tempo não fosse nada, mas tempo é tudo. Fazer do tempo algo inválido não me preocupa, só me preocupo se eu me tornar algo inválido com o tempo. E se o tempo me tornar algo inválido, eu farei do tempo meu passatempo. 
E que tempo é esse que em cada canto é um tempo? Vinte e quatro horas  não são o tempo, são contagens. Como se tempo, em números, pudesse ser contado. Mal sabe o relógio que o tempo que ele conta não existe. Trabalho inválido. 
Mal sabem a perda de tempo que é ficar contando o tempo. Pessoas contam o tempo mas o tempo não conta pessoas. Pessoas correm contra o tempo e ele ri dos contratempos resultantes. Pessoas fogem do tempo e ele nem ao menos se dá ao trabalho de perseguí-las. Pessoas ficam ansiosas com o tempo e ele se deleita em paciência. Pessoas seguem rotinas à partir do tempo e ele nem sabe que horas são. Pessoas passam a vida toda ao redor do tempo e ele nem sabe o quanto já viveu. 
O tempo que perdem contando o tempo é o tempo que se leva uma vida. Rotinas, horários, compromissos e atrasos, são contratempos que o tempo nos prega. O tempo ri-se da desordem, dos atrasos e dos acertos enquanto lamentamos o que se passou. 
Como um grande livro, no tempo tudo foi registrado com a escrita do vento. Tudo o que se passou, se foi, existiu, persistiu, em cada vértice de tempo. Cada sentimento que o tempo plantou, colheu e se alimentou, talvez se satisfez, talvez se desfez. Cada amor que o tempo beijou, foi-se com ele o sentimento. Cada lágrima que o tempo derramou talvez se enxugou com outros contentamentos. Cada dor que veio com o tempo também se foi com ele. Cada tempo que se foi, talvez levou o amor. 
Amor é tempo. Amor é tempo que ansiao encontro, o beijo. Amor é tempo que espera a resposta da pergunta. Amor é tempo que espera pelo tempo do outro. Amor é tempo que, quando é verdadeiro, não se vai com o tempo. Amor é tempo que passa noites em claro almejando a cura. Amor é tempo que vê transparência vidros escuros. Amor é tempo que, no otimismo, esperar realizar o platônico. Amor é tempo que crê no ser. Amor é tempo que crê mas não quer apenas ter, quer se preencher. 
Sem querer, sem ao menos perceber, o tempo tatua-se na face de quem vive. Entre marcas, cicatrizes, casos inacabados, um sinal do tempo. Pra cada um, um tempo em fatos e acontecimentos. Memórias que vão e  ficam, tempo de dizer o que se quer esquecer ou lembrar. 
E as horas? O que dizer de cinzas de tempo? Horas são cinzas que o tempo deixou pra contar acontecimentos. E datas, dias, anos, séculos, tudo isso não passa de carvão queimado pelo tempo. Do tempo, só restam as cinzas. 
Números nunca se simpatizaram com o tempo. O tempo sempre quis correr desordanado, mas os números queriam um percurso fixo. E os números colocaram o tempo em linha reta, mas sempre que possível ele desvia o caminho. Afinal, caminhos não existem. Se não fossem por simetrias, ninguém seguiria linhas. Entre o certo e o errado, eu deixo para o tempo violar termos. 
De fato, o tempo não pode ser contado. Por que contar o tempo se ele nem ao menos se dá ao trabalho de se preocupar comigo? Os homens são tolos de se preocupar com o tempo enquanto ele vive seu próprio tempo. Tempo não se conta, não é físico, não é presente. O tempo é o tempo de cada um e cada um ao seu tempo. 
Quanto ao meu tempo. Bem, meu tempo é o agora que se passa agora. Meu tempo é o agora que faz refletindo meu ontem. Meu tempo é o agora que sequenciará meu amanhã. Meu tempo é o agora porque agora é o único tempo. E quando o tempo me escorre por entre os dedos eu quero fechar as mãos. Ver o tempo passar entre os dedos me faz não querer ter dedos. Se eu pudesse prender o tempo eu o transformaria em água. Transformaria o tempo em água porque em qualquer forma sempre estaria presente. Tempo é água que se solidifica, evapora e congela, mas nunca desaparece. 
Tempo tem gosto de céu, céu tem cor de vento, vento é cinza e cinza é tempo. Tempo é um círculo vicioso que nunca vai pra reabilitação. Tempo é vício que vicia e se mantém em si mesmo. 
E quanto aos relógios? O que dizer de ponteiros que ignorantemente acreditam matematizar o tempo? Relógio é orgulhoos, fiel e cego, que acredita não errar contagens de tempo. Relógio, amigo, e se eu quebrar seu mecanismo, com que peça contará o tempo? Relógio, amigo, e se eu te tirar o alimento, que tempo fará seu contentamento? Eu nunca gosto de relógios, eles sempre me fazem perder meu tempo. Eu odeio relógios pelo fato de não estarem no meu tempo. 
E o tempo se foi, se vai ou irá, bem usado ou não, passou. O tempo zomba de mim porque não tenho forças pra me defender dele. Mal sabe o tempo que se eu tivesse forças, ele nem ousaria passar por mim. Meu amor não passa porque não é tempo. 
E de tempo em tempo, faço das horas um divertimento. Quebrar relógios é tão enaltecedor, propôr superioridade ao tempo. Acima do tempo somente meu pensamento. E como se tempo fosse nada, eu faço dele meu passatempo. 

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Não esqueça meu nome, sua memória já não é mais a mesma. Brincar com isso seria errado já que você não se garante. Pílulas e bebidas não vão chegar onde eu cheguei quando estive do seu lado. Colorir a si não te fará se destacar no mundo. Chamar o mundo para si não te fará o eixo. Fingir que não existe não te fará transparente. Tentar apagar o que aconteceu não fará o relógio voltar. Dizer que nunca ouviu não fará com que o som desapareça. Acreditar no que não existe não te fará o mais fiel. Pensar em fórmulas não te fará um gênio. Criar padrões não te fará um exemplo. Seguir regras não te fará a perfeição. Fumar não te fará elegante. Beber não te fará descolado. Se drogar não te fará imbatível. Emagrecer não te fará uma tendência. Dizer o que pensa e ter opinião farão de você o que realmente é: você.