quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Gelo

Há um certo gelo em mim que temo em derreter por medo de me afogar. Mas talvez o melhor que eu faça seja me afogar em mim ao invés de me afogar em águas alheias. Mas talvez eu nem queira que esse certo gelo em mim derreta porque talvez seja ele que motiva a procurar um aquecer. 
Eu não quero inundar, mas talvez chover. Eu quero me manter internamente nesta temperatura nórdica, ao invés de um incessante calor. Eu já pensei que, se eu me aquecesse em outro alguém, seria uma sollução para ser algo com mais calor humano, mas isso é em vão já que todos estão preocupados em derreter suas próprias geleiras. Eu nem me preocupo com esse meu gelo interno, mas me incomodo em ver essa geleria comunitária. 
O que eu digo é que meu gelo é um acúmulo frio de situações que me forçaram a ser indiferente. Não que eu não sinta, eu sinto, mas já não mais me decepciono. São situações de falsos amores, erros, oportunidades não alcançadas, amigos irreais, que me congelaram. E então, não mais espero, não mais me iludo, não mais me decepciono porque há um bloqueio gelado que impede. Eu apenas desfaço, mas nunca me desfaço. 
É a minha incrível capacidade de, automaticamente, esquecer o que me faz ou me fez mal. Ficar indiferente em frente ao que me faz mal e esquecer. Eu deixo de amar em pouco tempo aquele falso amor de tal forma que me esqueço o que sentia. Não que meu amor fosse fraco, falso ou passageiro, mas é que automaticamente me desfaço de amores que não têm funções. Aquele que era meu mais fiel amigo e se tornou o inverso, também  desfaço. Não que eu não considere um amigo como tal, mas desfaço quando me faz mal porque não quero magoá-lo com a mesma dor. Não que eu me esqueça de tudo, eu só faço questão de esquecer o que é inválido. Eu perdoo erros alheios, perdoo traições carnais, perdoo deslizes sentimentais, mas jamais me esqueço. 
E não insisto, não vou atrás, não mais. Minha persistência já desistiu dessa insistência inválida em algo que nunca valeu e nem valerá. E o mais certo a fazer é deixar. Deixar passar, deixar pra lá, deixar. Porque eu não vou atrás nem de mim quando me perco, quem dirá eu ir atrás de outos pra encontrar? Talvez quando alguém quiser me encontrar eu já não queira mais estar lá. Esperar até quando for necessário; quando desnecessário, partir. 
Eu cansei, mas cansei não por não ter mais recursos para insistir, eu cansei porque isso não me levará a nada, jamais. Eu erro uma vez, tento consertar na segunda por insistência, na terceira me vem a desistência e a consciência diz que não me valei mais. Eu insisto até ver onde posso, onde ainda há uma certa esperança, quando não mais, parto. 
Em meio a tanta fortaleza, choro. Choro porque preciso me desfazer do que me assola e deixar vazar uma suposta dor. Choro porque águas internas e paradas precisam se renovar antes de validar. Chorar tudo o que tiver que desaguar, mas jamais se acomodar nesse conforto e antes que as lágrimas sequem, partir para confrontar a solução. 
Mesmo que meu gelo derreta, a carne chore e eu me afogue, eu jamais serei aquela fina película humana que se rompe em qualquer situação. 

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