sábado, 4 de setembro de 2010

Roteiro

Às vezes eu duvido que isso tudo seja de verdade realmente. Duvido até de mim quando possível, então é normal eu duvidar de você. E se ao invés de me dar uma dúvida você me poderia concretizar uma certeza, não?
Mas se me acordar à 5 da manhã com uma mensagem dizendo que me ama, vou perder o sono em ambos os sentidos e nem vou reclamar. Dizendo ou não que me ama eu já perco o sono. Perco o sono por duvidar que me ame, mas perco se disser que ama. E se ao invés de me tirar o sono, por que não me tira o ar? Me deixe sem sono, sem ar, sem sede, sem fome, mas não me deixe sem você. 
Sabe o silêncio? O silêncio me faz escutar o vazio. Sabe o vazio? O vazio me faz sentir frio. Sabe o frio? O frio tem gosto de ausência? Sabe ausência? Essa me lembra você. 
Eu quero acordar, te ver ao lado, fingir que estou dormindo só pra te ver acordar, e te acordar, te acordar a cada dia de uma forma diferente, e ver você sorrir, e ver você olhar pro relógio e dizer que se atrasou, e fazer cara de preocupação querendo sair da cama, e eu te puxo rindo, te aviso que é sábado, e você ri o riso mais lindo e volta pra cama comigo, e diz que eu não presto por gostar da sua cara de preocupação, e eu rio do seu riso e digo que amo qualquer cara que você faça, e te beijo e você ri, e você me pede pra parar, eu paro e faço cara de poucos amigos e você ri e me beija, eu finjo não gostar e te puxo pra mim e te guardo pra mim, e ficamos ali até tomar o café, aquele café bem forte que tanto amo, mas não amo mais que você, e você me pergunta o que faremos hoje e eu digo que vamos ficar o dia todo na cama, e você ri, eu ironizo "quer coisa melhor?, e você diz que tem um lindo dia ensolarado lá fora pra ficar o dia todo  na cama e eu sugiro que levemos a cama lá pra fora então, e você ri e diz que eu sempre tenho a imaginação fértil, eu deixo a xícara de café e te abraço, e é aí que quero ficar mas você ainda prefere o dia de sol lá fora, então vamos lá fora aproveitar seu dia de sol e eu digo que quero te fotografar, e você pergunta se eu nunca me enjoo de sempre te fotografar e eu respondo que se me cansasse teria escondido minha câmera no porão e jamais fotografaria alguém, e você ri e diz que eu sou a pessoa mais boba que já conheceu, eu rio e digo que é um exagero da sua parte porque existem pessoas mais bobas como eu, como políticos, por exemplo, e você ri mais ainda e pergunta se sei que me ama e eu respondo que se quiser repetir não vou achar ruim, e você me puxa pela cintura e me beija, tropeço e caímos na grama, e você ri e fica me olhando porque eu sempre me desajeito com alguma coisa e fico com as bochechas coradas e você diz que é a coisa mais adorável do mundo, e eu me deito no seu peito e esqueço das fotografias que ia fazer, esqueço do tempo, esqueço do sol, esqueço de tudo porque só escuto  o seu coração bater enquanto me afaga os cabelos, e vem um trovão atrapalhar o som do seu coração, e você diz que vai chover, eu nem me importo, apenas guardo a câmera, e cai uma gota, outra gota, outra gota desliza sobre seus lábios mas fico com ciúmes e trato de tirar ela dali te beijando, e chove, e você quer se levantar e eu digo que não, que quero ficar ali na chuva com você, na grama, no chão molhado mas mesmo assim você se levanta e quer ir andando, e vai andando e eu te puxo pelo braço e te beijo, você se rende, se rende à mim, à chuva, à agua entre nós, e seu corpo molhado, seus lábios com gosto de chuva, seu cabelo molhando entre minhas mãos e você diz que eu sou a pessoa mais insana que conheceu e que depois não vai me levar ao médico se eu ficar doente, eu  nem ligo, só quero você e a chuva, e a chuva piora e agora sim eu resolvo que é melhor irmos, e você corre e me puxa pela mão, e corremos, corremos pela chuva e chegamos em casa, mas eu nem quero tomar banho quente, mas você insiste que eu vá, eu vou enquanto você faz meu chá preferido, eu termino e você vai tomar o seu banho, eu pego o chá e me sento na escada, acendo um daqueles cigarros com sabor que eu só fumo às vezes e fico vendo a chuva cair, e o chá me conforta, e o cigarro me distrai, e você aparece na ponta da escada e me pergunta o que estou fazendo com o cigarro na mão e eu respondo que logicamente estou fumando, e você desce as escadas, me rouba o cigarro e diz pra não fazer mais isso, fico com cara de espanto  mas você completa que não é pra fazer mais isso sem te oferecer, e eu rio e você traga o cigarro com gosto e toma do meu chá e pergunta se eu não quero voltar pra cama, e eu digo que era o que eu mais queria desde o começo do dia mas você insistiu no dia ensolarado, e você ri e diz pra olhar lá fora e que eu diga onde está o dia ensolarado, e eu respondo que meu dia ensolarado está na cama ao seu lado, e você esquece chá, esquece cigarro e me leva pra cima, e me beija, me beija, me beija e me leva pra cama e me pede pra ficar, pra ficar na cama, pra ficar com você, pra ficar em você, pra morar em você, pra viver em você e eu respondo que o que eu mais quero é viver pra viver com você. 
E mais uma vez, eu e minha imaginação fértil. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário